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entrementes (erva doce)

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autor: Guma   Acrílico sobre tela canvas 100 x 70 cm - indisponível . " entrementes " ( erva.doce ) . diz*se dele, que nada dele se sabia. de onde veio, como se chamava e ainda aconteceu de lhe darem um nome, melhor, vários!!! não tinha idade, ou tinha muitas, todas as que cada um imaginava. e estando permanentemente na dele, envolvido, o alcunharam de "entrementes". ficava por norma um pouco distante dos restantes retalhando o que ouvia a partir do que pescava* - solto das conversas de quem se sentava à sombra da soberba mangueira do terreiro, que pintava do vermelho pó, os pés descalços de quem a vida pisava, porque pisar a vida no seu paço, ainda era um sonho, naquelas bandas. o puzzle batia certo para ele mesmo, mesmo sem sem o encaixar das peças e assim lhe passavam os dias, cada um como uma reza...  a certa altura, num dia de canícula insuportável, sentei-me perto da eira junto ao terreiro, e fui-me ressentando aos poucos para mais perto dele e ouvir o que diz

Never ending story

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- conta . conta... " era uma vez uma estória sem fim... " tinha portas . trancas ferrolhos do tempo . que se abriram respirei fundo e a magia entrou com a brisa quente sei . me para lá dos contos e lendas mas . quedei . me . num rei . numa rainha belos príncipes e damas de honor também tinha botões em flor exasperando por abrir num movimento vagaroso era uma estória sem fim . guardada na memória de preto. nua . se dissipava na noite confundindo . se de dia . com o branco e cinza da neblina . esperava por ser contada . mas... adormecida estava nas ameias do castelo coberta por um manto rubro e translúcido que a poeira não permitia vislumbrar . da torre de menagem a estória era vigiada pelos guardiões do tempo e da hora e do quando poderia ser ouvida a hora não se dava . e . assim a estória . que de dia para dia se encorpava jamais pôde ser contada. . autor  📸📝 :  Guma  © 2009 / 2023

As fragâncias da casa Gira

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  ."Fragrâncias" . jamais conhecerei bem e totalmente a casa Gira. a casa que me surpreende, ela muda por vontade própria, ela é infinitamente livre de se transformar para receber sempre desigual. sala a sala me é dada a uma nova visita algo diferente na evocação do ontem e na frescura do hoje, o aroma dos dois. percorro-as tateando na semiobscuridade e em tudo que toco, me lembra veludo, azul e quando respiro profundamente, deixo que o ar escape lentamente me deixando vazio para instalar o que vier a seguir. enquanto nestes despensamentos da divagação, ouço as duas meias portas centenárias, verdes e vidradas, rangeram musicalmente. desci curioso, e vejo-as fecharem-se primeiro nos dois trincos, de seguida as fechaduras rodaram os canhões, trancando firme mas sem chaves, olhei para me certificar de que não estava a inventar e as vi voltarem à posição inicial, quem sabe porque era assim que as queria e porta não pode ter vontade própria - mas olha que tem, naquela casa Gira,

" trágico miado "

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. havia um homem que o povo dizia, não ter juízo. ele morava aqui na vila, umas casas abaixo da minha. era o sujeito mais pacífico cá da terra, tal como pude observar ao longo dos anos, e não só pacífico, como educado, cumprimentava todos com quem se cruzava, miúdos ou graúdos, embora veladamente, mas fazia-o até com deferência, outros que o olhavam com desdém  nem sempre tinham a mesma educação, e isso nota-se numa vila pequena, em que quase todos se conhecem pelo menos de vista. - percebi que já não se pode andar solitário e nos caminhos do falar sozinho, sem ser apelidado de louco. eu, não conhecendo sua graça, chamava-o de "o poeta" - sim - porque ele declamava a tempo inteiro,  caminhando  cabisbaixo e olhando as pedras polidas da calçada, só levantando a cabeça para cumprimentar quem se cruzava com ele. _______________________ umas noites atrás - por volta da uma da manhã, em frente à minha morada, ouvi aquilo que acreditei ser um grupo de pessoas travando conversa. pas

"Jo e Segunda"

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  Ele chegou com o sol nascendo numa segunda-feira à casa que o aguardava, na cidade do Lubango, no velho bairro da Lage, prédio encostado à padaria do "Arnaldo Fernandes", donde o cheiro do pão acabado de sair dos fornos chegava com vigor à rua, num convite para matar a fome, o que lhe sobrou na memória para sempre. Lingrinhas, mas espevitado, deveria ter uns sete ou oito anos. Quem o "deu" aos velhotes não sei, nem sei se seria essa a idade dele. Iria ser afilhado / criado, a mistura das duas coisas, ou uma a encobrir a outra, que muita gente como ele sentiu na pele. Que interessava ao velhotes o nome esquisito que ele trazia Tchacuvuco, se podia passar a chamar-se simplesmente Segunda, como o dia em que ele chegou e encantou. E assim o batizaram como a branco nenhum chamariam. O Segunda e um menino vizinho, o Jo, brincavam pouco, por razões diversas, mas quando o podiam fazer, era de pé descalço. Segunda não tinha sapato, chinelo ou sandália, arrastava os pés no

" se amar assim é pecado... "

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o sol se foi, mas ali estive como tantas outras vezes fizemos, questionando como era possível o mesmo lugar à beira rio nos parecer todos os dias, o encanto de um novo cenário. desta vez não estavas lá, e eu não me senti também. regressei sem pressa a casa e nem a esperança de a encontrar acolhedora me fez companhia. deito-me na cama que me parece maior que nunca e fecho as gelosias da alma e  pela milésima vez,  com os dedos percorrendo  cada recanto do teu retrato com o pormenor de quem sabe onde foi feliz uma vida inteira. no lusco-fusco daquele que foi nosso quarto, sopro a vela para a apagar, mas ela tenta-me com vontade própria, teimando na luz desnecessária que reflete meu pesar, minha saudade imensurável, fazendo das nossas memórias uma tela desgastada nas paredes frias do que foi em tempos um ninho acolhedor. em pensamento delineio a reconstrução  de cada momento em que não consegui estar sóbrio contigo, por ao respirar-te profundamente, me sentir tão  ébrio, qual elixir da p