As fragâncias da casa Gira
."Fragrâncias"
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jamais conhecerei bem e totalmente a casa Gira.
a casa que me surpreende, ela muda por vontade própria, ela é infinitamente livre de se transformar para receber sempre desigual.
sala a sala me é dada a uma nova visita algo diferente na evocação do ontem e na frescura do hoje, o aroma dos dois.
percorro-as tateando na semiobscuridade e em tudo que toco, me lembra veludo, azul e quando respiro profundamente, deixo que o ar escape lentamente me deixando vazio para instalar o que vier a seguir.
enquanto nestes despensamentos da divagação, ouço as duas meias portas centenárias, verdes e vidradas, rangeram musicalmente.
desci curioso, e vejo-as fecharem-se primeiro nos dois trincos, de seguida as fechaduras rodaram os canhões, trancando firme mas sem chaves, olhei para me certificar de que não estava a inventar e as vi voltarem à posição inicial, quem sabe porque era assim que as queria e porta não pode ter vontade própria - mas olha que tem, naquela casa Gira, tem!
sem me questionar fui subindo, a casa Gira tem naturalmente magia, onde nada é de estranhar por subitamente acontecer algo nunca visto, nunca sentido e não mais se consegue des*sentir.
degrau em degrau a madeira rangeu mas disfarçadamente, como quem já não está para carregar cansaço e dores alheias, hoje elas a cada avanço pisando leve, elevam escada a cima a alegria do porvir.
as janelas fixas da escadaria, à passagem, se entreabrem e me pergunto como, pois se são fixas, como tão depressa o achei normal e entendi que me convidavam o olhar a fechar as gelosias dos olhos, e de cada uma sentir apenas o convite do ar quente e húmido perfumado na pele de meu rosto me invadindo aos poucos da mesma leveza de tudo quanto habita a casa, e como tal, eu não mais andava, pensava e logo me via lá, assim era o que lá habitava mudando de lugar, para que quem olhasse, visse sempre a renovação e o acontecer noutro lugar, noutra perspectiva.
uma neblina densa contornava cada lanço das escadas até ao cimo, um manto, e no âmago da casa Gira subia em espiral se esfumando no candelabro de velas do tecto.
entrei na espiral, e me vi esfumando por ali acima até ao candelabro e reaparecia sentado na base da espiral continuamente alimentada pela neblina mágica.
leve, cada vez mais leve me deitei ouvindo agora as janelas e portas fecharem-se e abrirem, ritmadas como se alguém as dedilhasse como teclas de piano, era o prelúdio do desassossego bom, e o resto... nem realidade, nem sonho, nem nada humanamente possível de descrever - e ri, ri muito como quem sonha rindo, num sono bonito e prazeroso!
- são os aromas (ouvi dizer baixinho, o que ecoou no corredor) exaltas óleos perfumados quando abres a caixa das fragrâncias... se as respiras, escorregas nas múltiplas des*realidades do dentro!
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era uma casa, muito animada, perfumada, tecto das estrelas, muita magia... não faltava nada!
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autor 📝📸 : Guma © 2009 / 2023
Comentários
Pode a mente nos convidar a imaginar, idealizar o que de mais ou menos criativo se encaixe nas divagações enfeitando novas roupagens, no fundo ficcionando juntando retalhos de vivências, ou até mesmo renovando-lhes o tempo, o modo, e o que atingiram, dando-lhes rédea solta. É um excelente exercício mental.
Outros dirão que gosto de viajar na maionese rsrsrsrs.
Um bom domingo minha boa amiga, para ti e para a família.
Kandando!
Uma casa onde se respira azul... Só pode ser uma felicidade a céu aberto...
Os efeitos sinestésicos do seu texto são formidáveis.
Tenha uma nova semana abençoada!
Abraços fraternos
Grato Roselia pela vinda à Serra*.
Um kandando.