"por portas e travessas"

 




.

duas meias portas
tortas e pouco inteiras
e umas quantas ranhuras
que me espreitam sorrateiras
.
acima e abaixo fechaduras
dois postigos d'olhos cerrados
e para o carteiro, uma abertura
.
lá dentro
a coberto do velho telhado
as paredes ruíram
o chão que pisávamos finou
.
sem um presente
o pretérito ficou no passado
estórias que o tempo roubou
.
a chave ficou escondida
onde sempre esteve e é seu lugar
o lugar do esquecimento
justo quando constatámos
que era demasiado sofrimento
e combinámos, deixar de a usar

.

autor  📝📸 : Guma © 2009 / 2023

Comentários

chica disse…
Bela porta na foto e linda tua poesia sempre! abraços, lindo fds! chica
Olinda Melo disse…
O que uma porta deixa entrever e o que esconde/protege.
À vista desarmada ranhuras, fechaduras, postigos, abertura para
o carteiro. Lá dentro há uma estória para ser contada ou não,
talvez na chave esquecida esteja a solução...
Belo poema. Este "portas e travessas" tem pano para manga.
Abraço
Olinda
Guma disse…
Olá Chica,
Caminhadas pela urbe registando prédios antigos, memórias e inspiração pela divagação do que se supõe terá sido a estória destas casas, ruas, vidas.
Bom domingo querida amiga!
Guma disse…
Olá Olinda,
Por fora, vemos camadas de tinta, fechaduras, olhos mágicos, uma fenda para o correio, remendos que o desgaste do tempo exigiu, como terá exigido muitas reviravoltas na sua história interior.
Por dentro, outras portas, resguardo da privacidade de cada um, cozinha onde se preparou comida com amor e fez juntar a(s) família(s) em tempos que sentar à mesa e conversar, fortalecia os laços entre as pessoas.
Amores, paixões... E na minha divagação, desamores que levaram a não usar mais a chave, que lá fica no esconderijo combinado, apenas como garante da memória que o tempo vai esbatendo.
Um kandando cara Olinda.
Bom domingo.
As casas também morrem quando os humanos as abandonam.
Um abraço.
Guma disse…
Ficam as memórias enquanto sobre elas se contarem as estórias
Um kandando.
Bom domingo.
Roselia Bezerra disse…
Boa noite de paz, amigo Guma!
Fiquei imaginando o tamanho do sofrimento que leva às pessoas a abandonarem uma porta de entrada. .. como estou emotiva por uma situação familiar, nem quereria ousar adentrar em tal recinto também.
Muito profunda sua reflexão em abundantes metáforas.
Tenha dias da nova semana abençoados!
Abraços fraternoa
Guma disse…
Amiga Roselia,
No que diz respeito a esta publicação / divagação / ficção, absorvida das minhas caminhadas pela urbe da Vila onde resido, esta como outras portas de casas que se esvaziaram de gente, mas ainda assim respira-se no ar estórias de vidas humanas e seus animais, seus sonhos, seus dissabores, suas conquistas... Eu terminei este texto poético com a sensação de que já não houve mais vontade anímica de quem esteve anteriormente ligado/a à casa, a esta porta que se abriu e fechou centenas de milhares de vezes, de a voltar a abrir. Como quem sela uma época e prefere que fique mesmo como está.
Desejava eu minha boa amiga que não estivesses a passar um momento menos bom pelas razões que te assistem e deste referência.
Como tal, desejo do coração que tudo se normalize e tenhas paz de espírito e fiques bem.
Um forte e sincero kandando com a amizade e estima de sempre.
Rajani Rehana disse…
Beautiful blog
Guma disse…
Rajani Rehana
A única coisa que escreve nos comentários dos bloggers é: "Beautiful blog", num apelo a que visitemos seu blog. Só que desta forma, respondo por mim claro, não consegue seus intentos, que são:
Seu blog é tudo menos bonito e está carregado de publicidade 😞
O seu fito é ganhar dinheiro, paciência, daqui não leva nada, tenho mau feitio 😊

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