um mundo dentro mundo, quantos mundos tem !/?

 


eu vi uma flor campestre entre tantas mais...
um mundo dentro mundo, quantos mundos tem !/?

como pisando nuvens me fiz ao caminho, de meu era o chilrear dos pássaros e o som da cadência dos passos sobre o restolho 

ao redor do velho sobreiro, uma popa colhia galhos para o ninho.
parei para não importunar e ela entretanto catou o que conseguia para voar de bico cheio e orgulhosa de seu empenho.

a amadurecer e avermelhar, os ainda alaranjados figos da índia, coloriam a orla da azinhaga tantas vezes por mim batida com meu cãopanheiro.


"speedy"

rememorei o galope descontrolado de meu amigo tricolor quando ainda rapazote, tudo o que mexia era para ser caçado na sua imaginação fértil, mas, correspondendo ao chamado, regressava sem capturas mas inteiramente convencido das suas aptidões.

bem tentei dizer-lhe, que apesar de nos genes ter a perícia de caçador, acima de tudo era um mestre de companhia e candura, uma eterna criança brincalhona me ensinando a sê-lo também, reavivando-me memórias de felizes tempos em que o "faz de conta" era algo muito real.
olhava-me muito compenetrado e houve vezes em que acreditei que me sabia ler nos lábios o que os ouvidos não traduziam.

aquele pedaço perdido de montes e vales geradores de vida, o perfume das flores silvestres e a companhia do meu amigo irrequieto, eram e são por teimosia do universo, a combinação perfeita com o céu repleto de cúmulos de brancura e pureza ímpar, desenhando com leveza o que me levava a ver, porque a gente vê o que quer ver.

a luz era única naquela courela vedada por arbustos espinhosos, gerava sem mais retoques, ou até "fazeres de conta", um dos meus muitos paraísos de ninguém preferidos, meus olhos não chegavam para captar tanta beleza, todos os outros sentidos aprimoravam-se para nada perder enquanto ali presente.

era e é até ver é, a natural realidade que nem nos sonhos é vivida, tudo quanto me inspira a preservar e respeitar deste bosque encantado, que me alimenta o espírito, lava a alma, me energiza e faz feliz.


autor  📝📸 : Guma © 2009 / 2023

Comentários

Olinda Melo disse…
Uma infinidade de mundos, creio.
Em cada um, matizes de cores, de luz, de movimento.
E os seres que os povoam cantam as suas maravilhas,
paraísos que nem todos vêem, barulhos ínfimos que
nem todos os ouvidos escutam.
O cãopanheiro tem essa capacidade. Distingue sons que
mais ninguém ouve, anuncia tempestades ou a chegada
de amigos, sendo ele próprio o amigo que adivinha os
desejos/pensamentos do dono, seu companheiro.
Nessas andanças me perco. E pressinto e sinto essa energia
que se evola da natureza.
Boa semana, caro Guma.
Abraço/Kandando (Kimbumdo?)
Olinda
Guma disse…
Olá Olinda, boa tarde.
Eu não consigo acrescentar mais nada ao comentário que descreve tão bem o sentimento da publicação, o olhar tem o seu próprio tempo dentro do tempo e depois recupera com a avidez de registar mais e mais de tão saborosa caminhada neste mundo que por aqui encontrei e que toda a vida desejei.
.
Sim minha amiga, kandando ou candando, na origem "kandandu" do quimbundo, é saudação/abraço 😊
O relato de alguém que vive com a natureza.
Um abraço.
Guma disse…
Olá / b.n.n.
Um pé na pequena urbe e outro no bosque 😉
O ar que se respira é saudável e inspirador
Um kandando
Fá menor disse…
Que lindo!
Calcorreei consigo esses mundos dentro do mundo, tantos e inspiradores!

Beijinhos e tudo de bom!
Guma disse…
Fá menor,
Encantado com a magia do que me rodeia, pois é um privilégio, encantado fico também quando a mensagem é entendida e vivida dentro do texto que ainda assim fica a anos luz do que se sente.
Grato pela leitura e companhia aqui na serra*.
Um kandando com amizade.

Mensagens populares deste blogue