tudo começa nas raízes
...era algo sobre a conversa sussurrada que as raízes têm entre si enquanto se espreguiçam e abraçam a árvore mais próxima.
a brisa quente do verão, ao acariciar a folhagem da árvore de folha caduca, lhes confia como certo é, caírem esvoaçando delicadezas, daqui a nada, será chegado o outono fora das previsões que já não se cumprem.
a alegria da semente germinando ao espreitar os primeiros raios de sol, mantém-se a mesma de quem a plantou e regou com paixão
observando com a alma e de olhos cerrados adormeceria sabendo, que nos sonhos reside a esperança, uma outra visão, e não as respostas que procuramos.
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Que o pensamento, nos chegue com o gosto que tem o gesto correcto.
- Ubunto p'ra todos nós -
A "tua" árvore de todos
nascem, vivem e um dia morrem de velhice, uma doença súbita ou prolongada, quem sabe.
outras vezes por não encontram motivação para permanecerem por cá a oxigenar-nos.
a sua morte natural é bem diferente dos humanos.
elas morrem de pé.
o homem fisicamente não o consegue, mas há aqueles que embora não o consigam em termos físicos o fazem com a sua elevação moral. Sabem colocar-se, entendem o seu lugar neste planeta.
as árvores prestam-nos sombra refrescante e um apoio sólido, desde os primórdios foram nossas companheiras e imprescindíveis e nem sempre respeitadas.
os homens com o seu idealismo podem ser o ombro, a sombra refrescante o apoio e solidez. porém nem sempre, as raízes são profundas o suficiente, e a árvore como acontece com o homem oscila conforme o vento sopra, ora mais à esquerda ora mais à direita, e até para o centro onde se diz que: "no meio está a virtude".
árvores assim com tanta oscilação, de fracas raízes, ou menos profundas, não suportam o esforço e um dia perante sua fraca base de sustentação, sucumbem à intempérie. (cai então por terra a teoria de que elas morrem sempre de pé)
com o homen, infelizmente acontece o mesmo.
contradiz-se, emenda e remenda a sua postura conforme os "ventos" mudam de direcção e os interesses do momento.
esses nunca morrerão de pé, nem fisicamente, muito menos com elevação moral.
cuidemos pois das árvores para que as suas raízes não se desprendam e que os homens nelas se revejam e que as pequenas oscilações representem tão somente a tolerância que deveria ser condição essencial no já tão agreste percurso de vida.
há pessoas que nos deixam saudades, mas há árvores que deixam muito mais!
fazendo votos ... que o lugar da "tua" árvore de todos se sucumbir, seja ocupado por outra e que sobreviva às intempéries, muitos e muitos anos, teu pilar, tua sustentação.
- abraça-a, experimenta a sensação de te ligares à terra.
caminhávamos pela azinhaga...
- porquê - perguntaste - é apenas uma árvore e tantas por aí há que me parecem iguais!
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na altura não me ocorreu uma resposta, simples.
- mais tarde travei como sei e como sinto, uma conversa entre mim e meu eu, companheiro de todas as horas, quase sempre horas controversas - voltei lá uns dias depois, uma vez mais comigo, eu mesmo e o silêncio.
- no meu jeito peculiar de ser que espantou quem passava, abracei o tronco da árvore a quem não perguntei o nome, escutei o farfalhar das folhas tocadas pela brisa, e o que me dizia o ranger dos galhos cansados de tanto mantê-las pomposamente verdejantes, mas já saudosos por saberem, que um qualquer outono próximo estariam despidos de sua graça e cor, respirei o aroma que o sol quente de verão faz exalar e perguntei-me por quanto tempo seria árvore e manteria sua dignidade e qual seria o seu destino.
- madeira para o homem, ou o fogo do inferno dum qualquer louco pirómano?
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- e fui... registando para a posteridade a imagem que dela quis recordar, altiva, digna de respeito, companheira de meditação, minha frescura e sombra, exemplo de apego e respeito à terra que a viu nascer, crescer e a alimenta continuamente!
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por mais fluído que venha sendo o trilho, recentrar é indispensável...
pare, é o seu momento (a dois), o encontro consigo mesmo. com aquele eu, por vezes cruel amigo e sem lisonja.
o lugar onde as palavras, pelo que são, assim sabem, os pensamentos que se não escrevem, o eu derramado sem filtro e sem abrigo, puro duro, sensível e verdadeiro, o eu que mais ninguém conhece, que ora fere, ora suave amacia a alma.
uns têm-na de folha caduca, outros tem-na de folha persistente,
pelo que de forma diferente e única, cada um cumpra seu caminho e lhe seja sempre presente, que as árvores com dignidade vivem e morrem, acaso ou por destino, riem e choram mantendo sempre a mais perfeita das virtudes... "Verticalidade"
Que o pensamento, nos chegue com o gosto que tem o gesto correcto.
- Ubunto p'ra todos nós -
autor 📸📝 : Guma © 2009 / 2023
Comentários
Adorei! abração, tudo de bom, lindo fds ! chica
Um abraço.
Grato por vires aqui até à Serra, pela companhia e pelo comentário bonito.
Kandando!
Nunca sabemos muito, sobra sempre outro tanto por aprender com tudo o que nos rodeia, fazemos parte integrante da natureza e tal como ela, temos coisas boas e outras menos boas.
Agradeço a leitura e companhia aqui na Serra. É sempre um gosto recebê-lo aqui, tal como visitá-lo e ler sua poesia.
Kandandos
Aprendamos com as árvores.
Obrigada, pelas tuas palavras. Que reconfortantes, neste Verão.
Abraço fraterno.
Algumas sim são fora do vulgar 😊
Kandando.
Tão bom, sentir a energia, que transmites.
Quero muito que estejas bem.
Estou nesse Kandando fraterno.
Raizes... Natureza....
Quem somos nós sem nossas raízes?
Linda publicação.
Bjins
Há coisas que só fazem sentido se aprofundarmos e percebermos de onde vimos, que estamos no presente fazendo e se iremos fazer sentido no futuro. A melhor base de sustentação, são as nossas raízes, nossa cultura, nossa natureza. Apelemos a ela!
Um Kanda do com amizade e estima.
Quedei-me aqui na leitura de texto tão profundo que fala da árvore e de nós.
Das suas raízes lhe vem o alimento, a resistência, e também em relação a nós se
não tivermos raízes que nos mantenham à tona soçobraremos.
Por vezes, falta-nos a verticalidade necessária para morrermos de pé, é verdade,
para encontrarmos o sentido da vida e procedermos com correcção.
É uma aprendizagem que deveremos procurar na própria natureza da qual, ao fim e ao cabo, fazemos parte integrante. Nem sempre nos lembramos disso, infelizmente.
Bom fim de semana, meu amigo.
Grande abraço.
Olinda
Gostei imenso do que me deixou de palavras com as quais me identifico.
Vivo estes dias mais reservado, confinado, pois não está fácil respirar lá fora. Sinto uma falta imensa das caminhadas no bosque que rodeia a minha habitação, do cantar dos pássaros e das cores alegres das flores silvestres. E tal é preocupante, pois o nosso planeta está ao rubro com o mau trato a que tem estado sujeito. As notícias erram-nos do que se vai passando por todo o lado e não são nada animadoras.
Precisamos de mais árvores, menos agricultura intensiva, menos agropecuária, no entanto nada nos diz que é para aí que caminhamos.
Fazemos parte dum todo, façamos cada um de nós por cumprir a sua responsabilidade.
Um sincero e amigo kandando com o desejo de um óptimo fim de semana.
Kandando com carinho e amizade.